POTÁSSIO E FOSFATO: COMO JAZIDAS EM PATROCÍNIO, SERRA DO SALITRE, ARAXÁ E SÃO GOTARDO IMPULSIONAM A PRODUÇÃO BRASILEIRA DE ALIMENTOS

Mai 19, 2025 - 13:45
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POTÁSSIO E FOSFATO: COMO JAZIDAS EM PATROCÍNIO, SERRA DO SALITRE, ARAXÁ E SÃO GOTARDO IMPULSIONAM A PRODUÇÃO BRASILEIRA DE ALIMENTOS
Eurochem é uma das empresas que aproveitam jazidas de Minas para impulsionar o Agro. Foto: Eurochem/Divulgação
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Minerais extraídos de reservas do Estado são fundamentais para a produção de fertilizantes nacionais

MOTOS E MOTOS

   **Marcelo Freitas / Repórter

  Sempre que se pensa em mineração, ouro e minério de ferro logo vêm à cabeça, especialmente em Minas Gerais, cuja história está muito ligada a aos dois elementos. O estado, porém, também é rico em jazidas de minerais presente não nos objetos, mas em algo indispensável à vida humana: os alimentos. Não fossem minerais como potássio e fósforo, componentes da conhecida fórmula fertilizante NPK, utilizada por agricultores, a produção mundial de alimentos seria bem menor.
Em Minas, as principais jazidas de minerais usados na produção de fertilizantes estão localizadas no Oeste do Estado, em cidades como Araxá, São Gotardo e Serra do Salitre. As reservas araxaenses são operadas pela Mosaic, enquanto a Verde Agritech e a EuroChem Salitre atuam, respectivamente, em São Gotardo e Serra do Salitre.
As três empresas contribuem para reduzir a enorme dependência externa que o Brasil tem no que diz respeito ao fornecimento de fertilizantes. Atualmente, cerca de 85% da demanda nacional vem do mercado externo, especialmente de China, Rússia, Belarus, Marrocos e Canadá. Por isso, trata-se de um setor sem capacidade ociosa. Toda a produção de fertilizantes saída dos estoques de Mosaic, EuroChem e Verde possui mercado garantido.
Sem autossuficiência, o Brasil está sujeito às variações de preços causadas por conflitos nas regiões produtoras, como a guerra da Ucrânia. Nos primeiros anos do embate no Leste Europeu, que se arrasta desde 2022, a cotação dos fertilizantes fosfatados subiu cerca de 40%. Para os de potássio, a alta foi ainda maior: 55%.

PLANTAS TAMBÉM SÃO BENEFICIADAS
No mundo vegetal, o potássio, o fósforo e o nitrogênio são fundamentais para o crescimento das plantas. O fósforo atua na formação de ATP (trifosfato de adenosina), principal fonte de energia da planta, e é essencial para a fotossíntese, a divisão celular e o desenvolvimento geral da planta. O elemento também ajuda na produção de flores e frutos.
O potássio melhora a resistência, principalmente em condições de estresse, como seca, baixas temperaturas, salinidade do solo e doenças. Já o nitrogênio é um componente de peso para a formação de proteínas, ácidos nucleicos e clorofila, imprescindíveis para a fotossíntese e para o crescimento vegetal.
A EuroChem e a Verde Agritech atuam em diferentes ramos da indústria de fertilizantes. Enquanto a empresa instalada em São Gotardo produz fertilizantes potássicos, a companhia baseada em Serra do Salitre trabalha com substâncias fosfatadas. A Mosaic, por sua vez, desenvolve os chamados fertilizantes transversais, em que a mistura NPK está pronta para uso por parte do agricultor.
A Verde Agritech é a maior produtora brasileira de fertilizantes potássicos. Fundada em 2005 a empresa está, desde 2007, listada na Bolsa de Valores de Toronto, no Canadá. As reservas localizadas em São Gotardo têm 5,9 bilhões de toneladas. O minério extraído do solo controlado pela Verde tem 10% de teor potássico, mas também é rico em manganês, magnésio e outros nutrientes.
Em São Gotardo, a empresa tem capacidade produtiva de 600 mil toneladas. Na cidade vizinha de Matutina, outra planta produtiva da Verde pode absorver 2,4 milhões de toneladas. O processo até a chegada dos fertilizantes aos agricultores é totalmente verticalizado, sem depender de insumos importados. Felipe Paolucci, diretor financeiro da companhia, afirma que já há projetos prontos para expansão das atividades da Verde. No novo patamar, a produção iria para 23 milhões de toneladas. No estágio final, subiria para alto em torno de 40 a 50 milhões de toneladas, suprindo cerca de dois terços da demanda nacional por fertilizantes potássicos. A decisão quanto ao aumento da produção depende, de acordo com Paolucci, de o produtor rural ter ampliada a segurança quanto aos créditos para o financiamento da atividade agrícola. A empresa também mira a melhora do esquema de logística, com a construção de uma ferrovia de trajeto curto ligando as instalações de processo industrial em São Gotardo a uma linha férrea gerida pela VLI em Ibiá.
Já a EuroChem, surgida na Rússia e sediada na Suíça, chegou ao Brasil em 2016, por meio da compra da Fertilizantes Tocantins. Presente em 10 estados do País, a empresa tem uma jazida com 350 milhões de toneladas de reserva e uma unidade industrial, ambas em Serra do Salitre. Da fábrica, saem cerca de 1 milhão de toneladas de fertilizantes fosfatados por ano. O número corresponde cerca de 15% da produção nacional. David Crispim, diretor de Operações do Complexo Mineroindustrial de Salitre, considera o atual momento do mercado brasileiro de fertilizantes como “estratégico e desafiador”. Segundo o dirigente, a conjuntura tem, como destaques, o crescimento estável da indústria agrícola e a crescente demanda do setor por soluções cada vez mais tecnológicas e eficientes. Crispim revela que o planejamento estratégico da EuroChem prevê a ampliação da linha de produtos, especialmente a de fertilizantes especiais.

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David Crispim, diretor da unidade mineira da EuroChem, considera “estratégico e desafiador” o momento atual da indústria de fertilizantes no Brasil - Foto: EuroChem/Divulgação

  MOSACI E AS UNIDADES HERDADAS

 Nascida nos Estados Unidos da América (EUA), a Mosaic tem quatro unidades em Minas. Duas delas, de mineração, ficam em Tapira e Patrocínio. Em Araxá, está um complexo mineroquímico, de onde saem 4,75 milhões de exemplares de fertilizantes fosfatados por ano.
Da mina de Patrocínio, a Mosaic extrai 4 milhões de toneladas de minério de fosfato por ano. Em Tapira, são 2 milhões de toneladas. As operações da Mosaic em Araxá, Patrocínio e Tapira foram herdadas da antiga Fertilizantes Fosfatados (Fosfértil), que surgiu em 1977 como estatal vinculada à Petrobrás. Depois, a Fosfértil pertenceu a um pool de empresas do setor de fertilizantes - entre elas, a própria Mosaic e a Vale, de quem a empresa estadunidense adquiriu, em 2018, o controle das unidades de Araxá, Patrocínio e Tapira. A Mosaic possui também uma unidade industrial em Uberaba, onde produz cerca de 1,7 milhão de toneladas de fertilizantes granulados e 4 milhões de toneladas de gesso agrícola.

Mosaic possui quatro unidades em Minas, todas no oeste do Estado, onde extrai e beneficia fertilizantes fosfatados. Foto: Mosaic/Divulgação

  PLANO NACIONAL DE FERTILIZANTES
As três empresas - Mosaic, Verde Agritech e EuroChem Salitre - operam em um cenário dos sonhos para qualquer empresário: não há capacidade ociosa e, assim, toda a produção é vendida. A conjuntura favorável ainda tem outro ingrediente: a ajuda do governo federal, que em 2022 lançou o Plano Nacional de Fertilizantes. Nele, estão 168 ações e 27 metas para ajudar o país a reduzir a dependência dos fertilizantes importados.

ENTRE AS METAS PREVISTAS ESTÃO:
Aumentar a capacidade instalada de produção de fertilizantes fosfatados das atuais 2,9 milhões de toneladas/ano para 9,2 milhões em 2050; Aumentar a capacidade instalada de produção de fertilizantes nitrogenados para 1,7 milhão de toneladas por ano até 2026; e para 3,2 milhões em 2050; Aumentar a capacidade instalada de produção de fertilizantes potássicos das atuais para 6,3 milhões em 2030 e para 14,6 milhões em 2050; Reduzir os custos de transporte em 15% até 2030, 30% até 2040 e 50% até 2050, incentivando a multimodalidade e a interiorização logística; Promover a competitividade dos misturadores de adubos e fertilizantes, em especial os pequenos e médios, garantindo o abastecimento de matérias-primas a preços e condições comerciais transparentes e com políticas compatíveis e acessíveis ao mercado final do agronegócio; Garantir a oferta de fertilizantes por meio da diversificação de fornecedores internacionais, além do estímulo à indústria nacional até 2030; Ampliar o conhecimento geológico e avaliar o potencial de insumos minerais de potássio e fosfato do Brasil por meio de 15 projetos regionais específicos que estimulem a pesquisa e a exploração mineral até 2030; 30 até 2040; e 60 até 2050.

  AVANÇOS IMPORTANTES
Para Eduardo Monteiro, country manager da Mosaic no Brasil, ocorreram, nos últimos anos, avanços importantes no incentivo à indústria nacional de fertilizantes, como a criação do Programa Nacional de Desenvolvimento da Indústria de Fertilizantes (Profert), que concede benefícios tributários para as empresas que investem na produção doméstica.
No entanto, segundo ele, há desafios significativos a serem superados, como a necessidade de maior segurança jurídica e de investimentos contínuos na área, para que se garanta o sucesso do plano.
Independentemente das incertezas impostas pelos contextos geopolíticos, como a guerra da Ucrânia, Eduardo Monteiro acha fundamental que o governo brasileiro mantenha um diálogo aberto com países e produtores internacionais. A interlocução, diz, é fundamental para impedir prejuízos ao cultivo e à distribuição de alimentos no Brasil.
David Crispim, da EuroChem, também considera importante a iniciativa do governo de lançar o Plano Nacional de Fertilizantes. Na visão do executivo, há medidas prioritárias para o aumento da oferta de fertilizantes. Na lista, estão a expansão da capacidade instalada e a reativação de fábricas paralisadas, o incentivo à construção de novas plantas industriais e o investimento em logística para o aprimoramento da distribuição dos materiais. Crispim defende ainda linhas de crédito e políticas fiscais que incentivem o setor, bem como o estímulo à inovação e o uso de tecnologias emergentes.
Felipe Paolucci, da Verde Agritech, classifica como muito importante para o setor o Plano Nacional de Fertilizantes., mas afirma que a implementação do arcabouço está ocorrendo de forma lenta. “Acho que está um pouco frio”, afirma. Paolucci espera que o plano ganhe espaço prioritário na agenda da União. Segundo ele, se não houver incentivo ao setor, o País permanecerá vulnerável na produção de alimentos e na manutenção da inflação em patamares baixos.

PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE
O executivo da Verde Agritech considera o incentivo à produção nacional de fertilizantes uma forma de o Brasil reduzir a emissão de carbono e, com isso, contribuir para o combate à crise climática. A emissão de carbono acontece durante o transporte de fertilizantes internacionais, que saem do país de origem rumo ao Brasil. Com a autossuficiência, não há, no que tange à emissão de gases poluentes, qualquer termo de comparação entre o produto brasileiro e o importado.
Em junho de 2023, a Verde deu uma contribuição adicional a esse objetivo ao decidir não vender seu produto para produtores de 218 municípios da Amazônia, que têm bioma relevante para a preservação. Ele aponta, como aspectos positivos da operação da empresa, o fato de as minas de potássio estarem em área de pasto degradado. Não há, no entorno do local, comunidades instaladas que dependam de realocação. A operação ocorre a seco, sem a necessidade de barragens de contenção de rejeitos.  

**Marcelo Freitas é jornalista formado pela UFMG em 1981, com passagem pelos jornais "Diário do Comércio", "Hoje em dia", "O Tempo" e "Estado de Minas". Foi diretor de Comunicação da UFMG, assessor de Comunicação da Câmara Municipal de Belo Horizonte e diretor de Redação do portal de notícias BHAZ.

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