ESTOQUE CRÍTICO DE SANGUE AMEAÇA CIRURGIAS COM SUS-BH SOBRECARREGADO

Fev 4, 2025 - 10:44
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ESTOQUE CRÍTICO DE SANGUE AMEAÇA CIRURGIAS COM SUS-BH SOBRECARREGADO
Agência transfusional do Hospital da Baleia, na região Leste, cuida do estoque e distribuição de bolsas de sangue da unidade - Foto: Alex de Jesus / O TEMPO
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Hospitais estão com cirurgias ortopédicas eletivas suspensas até 5 de fevereiro; Hemominas tem priorizado demandas de urgência
 

MOTOS E MOTOS

Por Isabela Abalen / Jornal O Tempo

Ao menos quatro pacientes são encaminhados a uma cirurgia ortopédica de urgência por hora na rede do Sistema Único de Saúde da capital (SUS-BH), que está com sobrecarga de 100 casos diários – o triplo do ideal. Todos precisam de transfusões devido às perdas significativas de sangue durante os procedimentos. O caminho das bolsas de sangue até os blocos cirúrgicos é, no entanto, tomado por uma tensão: o estoque crítico na Hemominas, forçada a operar com contingenciamento. A fundação está priorizando demandas de urgências à custa de precisar adiar os procedimentos eletivos que, segundo o órgão, “podem aguardar a melhora dos estoques ou utilizar técnicas que reduzam a necessidade de transfusão”. A reportagem de O TEMPO apurou que hospitais de alto volume cirúrgico, como Santa Casa BH, Baleia e Risoleta Neves, já trabalham com a necessidade de remanejar pacientes por falta de reserva, principalmente dos tipos O (positivo e negativo) e outros tipos negativos. “Quando as doações ocorrem em número inferior à utilização e um estoque crítico é alcançado, são necessárias medidas de contingenciamento como esta, até que os estoques sejam restabelecidos. No caso, as urgências, incluindo cirurgias, continuam sendo atendidas em prejuízo dos tratamentos eletivos”, informou a Hemominas. A restrição de bolsas de sangue, devido ao estoque insuficiente, agrava ainda mais a sobrecarga da rede SUS-BH, que já está com outro Plano de Contingência ativado.
A Secretaria Municipal de Saúde da capital suspendeu, até 5 de fevereiro, a realização de cirurgias ortopédicas eletivas, após os procedimentos de urgência terem triplicado nos primeiros 20 dias do ano. A alta demanda tem superlotado os prontos-socorros, como o Risoleta Neves, e levado hospitais de apoio ao limite, como o Hospital da Baleia. Agora, as cirurgias agendadas e outros tratamentos que exigem reservas de sangue, como transplantes de medula óssea na oncologia, são colocados em segundo plano.

“É muito comum o adiamento de cirurgias por falta de reserva de sangue nesses momentos críticos. Em períodos de sobrecarga de internações, isso sempre se agrava. Nos casos de ortopedia, os pacientes idosos são os mais afetados, porque os procedimentos cirúrgicos desse grupo exigem reservas adicionais de sangue”, relata o cirurgião ortopédico Diogo Sabido. Ele integra o corpo clínico do Hospital da Baleia, na região Leste de BH, e do Maria Amélia Lins, no Centro-Sul, e conta já ter precisado adiar procedimentos por achar mais seguro não arriscar sem o estoque ideal de sangue. “Há poucas semanas, precisei suspender um caso por esse motivo. Quando o procedimento demanda muito sangue, eu costumo avisar aos pacientes, previamente, que há grande chance de cancelamento caso não haja sangue disponível”, diz.
Na Santa Casa BH, os principais afetados pelo contingenciamento na Hemominas são os pacientes do pós-operatório de cirurgias complexas, de oncologia e dos CTIs clínicos. De acordo com a gerente da Farmácia Clínica e Agência Transfusional do hospital, Melina Naves, já que o baixo estoque de sangue tem interferido nos atendimentos, cabe ao setor responsável por cada caso analisar a criticidade da transfusão. “Em períodos de escassez [de sangue], os procedimentos eletivos podem ser reavaliados para garantir a segurança dos pacientes. Algumas dessas cirurgias já precisaram ser adiadas para priorizar os casos mais urgentes. Esse procedimento é adotado há bastante tempo, mas tem se intensificado nos últimos meses devido à redução dos estoques”, explica.
A situação é a mesma no Hospital Risoleta Tolentino Neves, em Venda Nova, que tem operado além da capacidade nas últimas semanas. A Agência Transfusional do pronto-socorro informou que recebe, diariamente, e-mails da Fundação Hemominas sobre o contingenciamento de sangue. “Por isso, estamos buscando hemocomponentes na Fundação com mais frequência ao longo do dia para garantir o atendimento dos pacientes que precisam de transfusão em casos de urgência e emergência. Em momentos de escassez de sangue, já tivemos que estabelecer prioridades", detalha. No Risoleta, os pacientes do pronto-socorro, bloco cirúrgico e CTI são os que mais precisam de transfusões.
De fato, a Hemominas afirma que cada hospital é responsável por cancelar os procedimentos eletivos, conforme considerem necessário. De acordo com a fundação, nem todas as bolsas reservadas são usadas nas cirurgias.

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Por isso, algumas equipes médicas mantêm os casos, mesmo com menos bolsas de sangue, enquanto outras preferem adiá-los para o momento ideal. “Em situações nas quais os pacientes possuem sangues mais raros, como os do tipo negativo ou presença de aloanticorpos – reação a transfusão anterior que pode dificultar encontrar uma bolsa compatível – pode ser mais difícil encontrar uma bolsa adequada, mesmo em situações em que os estoques estejam satisfatórios”, alertou a fundação.
O Hospital da Baleia realiza cerca de 420 transfusões mensais – ou seja, ao menos 14 por dia. Dependendo da gravidade dos casos, cada procedimento pode demandar de duas a 10 bolsas de sangue, o que eleva as solicitações à Fundação Hemominas.
Durante o contingenciamento do estoque, no entanto, dezenas de bolsas podem ser enviadas a uma urgência grave, como uma vítima de acidente de trânsito com hemorragia interna, enquanto o paciente que está tratando um tumor no fígado e precisa de uma cirurgia para remover parte do órgão – o que também demanda múltiplas transfusões – pode precisar aguardar mais do que o esperado.
A gerente ambulatorial e de serviços de diagnóstico do Hospital da Baleia, Rafaella Matos, revela que a equipe prefere trabalhar com atrasos a iniciar procedimentos sem o número ideal de reservas de sangue. “Estamos com dificuldade para fazer as reservas. Para as cirurgias eletivas, precisamos das bolsas de sangue antes de poder entrar com o paciente no bloco operatório. Eu não posso pôr o paciente em risco. Com dificuldade, estamos atendendo, às vezes precisando realizar as cirurgias em outro horário que não o marcado”, conta.
De acordo com Rafaella, as transfusões no hospital são direcionadas principalmente aos pacientes cirúrgicos, oncológicos e com doenças renais. Ela destaca que o início do ano costuma ser um período de baixa doação de sangue, mas que isso precisa mudar.

AJUDE: TORNE-SE UM DOADOR
A Hemominas convida para que as pessoas que se enquadram nos critérios de doação, especificados no site hemominas.mg.gov.br, se tornem doadores regulares. "Estas doações nos ajudam a evitar que os estoques entrem em níveis críticos, o que coloca em risco uma séria de pacientes que precisam de transfusões", diz a fundação. 
Homens podem doar até 4 vezes no período de 12 meses, com um intervalo mínimo de 60 dias entre as doações. Mulheres podem doar a cada 90 dias, sendo no máximo 3 doações em um período de 12 meses. Para doar sangue, agende um horário na unidade mais próxima da Hemominas.

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