CRISE NO PATROCINENSE ABRE CAMINHO PARA O PARACATU PODER JOGAR O MÓDULO 2 EM 2025

Guilherme Sena - www.setenosesportes
A disputa por uma das vagas no Módulo 2 em 2025 do Campeonato Mineiro ganhou contornos inesperados. O Paracatu, terceiro colocado da Segunda Divisão de 2024, está no centro de um imbróglio que pode levá-lo à disputa. A incerteza surge devido à situação crítica do Patrocinense, que é o dono da vaga por ter sido rebaixado em 2024, mas está afundado em dívidas e com problemas judiciais. A seguir, contamos em detalhe toda a situação, numa parceria com o jornalista esportivo (e amigo) Christiano Jilvan, que acompanhou de perto o desenrolar da situação e fez um thread no “X”/Twitter sobre o caso.
PARACATU: EVOLUÇÃO E EXPECTATIVAS
Fundado em 2021, o Paracatu, conhecido como “O Lobo Corleone” da Cidade do Ouro, vem mostrando evolução desde sua estreia na Segunda Divisão em 2022. Em 2024, a equipe alcançou seu melhor desempenho, chegando às semifinais e registrando a maior sequência invicta do torneio. Apesar da eliminação para o Guarani de Divinópolis nas semifinais após dois empates, a campanha consolidou o time como uma das forças emergentes do futebol mineiro.
Com a expectativa inicial de tentar o acesso novamente em 2025, o cenário pode mudar. Caso o Patrocinense não esteja apto a participar do próximo Módulo 2, o Paracatu seria o herdeiro natural da vaga, seguindo os critérios técnicos do regulamento.
CRISE NO PATROCINENSE: DÍVIDAS, ESCÂNDALOS E INDEFINIÇÕES
O Patrocinense vive um momento de caos administrativo e financeiro. Rebaixado em 2024 após abandonar a 1ª Divisão por falta de recursos para as taxas com a FMF, o clube acumula dívidas próximas a R$ 4 milhões. O montante inclui R$ 1,7 milhão em pendências trabalhistas com ex-jogadores desde a temporada de 2022, além de processos envolvendo salários atrasados, 13º, férias e FGTS. Na desistência do Mineiro, o CAP ainda foi multado em R$100 mil pelo abandono.
Para agravar a situação, o clube foi envolvido em um escândalo de manipulação de resultados na Série D de 2024, que resultou no indiciamento de ex-jogadores, do ex-treinador e de um empresário ex-parceiro no departamento de futebol. Apesar de não ter sido culpado oficialmente nos autos da investigação do STJD, o episódio manchou a imagem da instituição.
Sem presidente efetivo há três meses, a diretoria interina enfrenta dificuldades para atrair investidores ou propor soluções financeiras. Uma tentativa de venda parcial de 70% da associação a um investidor foi cogitada, mas não avançou por falta de interessados.
O PAPEL DA FEDERAÇÃO MINEIRA DE FUTEBOL (FMF)
A FMF convocou os clubes para o Conselho Técnico do Módulo 2, marcado para 28 de janeiro. O Patrocinense foi incluído na lista de convocados, mas sua participação efetiva na competição segue incerta. A ausência de um presidente e as dívidas trabalhistas bloqueiam o registro de novos atletas na CBF e na FMF, além do bloqueio na Justiça do Trabalho para novos vínculos trabalhistas, dificultando a organização para 2025.
O QUE DIZ O PATROCINENSE?
Em entrevista ao programa “Parada dos Esportes” desta quinta-feira, 9/1, da Rádio Difusora 95.3 FM de Patrocínio, o ex-presidente e atual Conselheiro do CAP, Marcos Antônio Silva (Marcão), confirmou a participação do CAP no Arbitral do dia 28/1: “[…] Estamos nos mexendo desde outubro e tentando encontrar uma solução para o CAP. Já partimos para a RJ (Recuperação Judicial), amortizar custos, SAF, enfim… Estamos tentando encontrar uma alternativa. Optamos por não levar por esse lado da “RJ”, pois não teríamos tempo hábil. Com relação à SAF, não conseguimos ainda um investidor que atendesse às nossas necessidades, assumindo 70% do clube, infelizmente“, resumiu Marcão.
Quando perguntado sobre o plano de ação para o CAP disputar o Módulo 2, o conselheiro afirmou: “Estamos agora trabalhando desde novembro, conversando com os reclamantes (das dívidas), para fazer o clube conseguir pagar os processos trabalhistas. Por último, fizemos uma por escrito para que os atletas analisassem, e esperamos um retorno nesta semana. Estamos tentando equalizar e fazer um pagamento em 12 parcelas para tentar formalizar esse acerto […]. Inicialmente, gostaríamos de equalizar essa dívida para tentar pagar a partir de fevereiro. Hoje, não temos nenhuma definição, mas estamos aguardando uma posição ainda nesta semana. Mas vamos ao Arbitral. Dia 28 teremos a resposta“, finalizou o ex-presidente.
POSSÍVEL BRECHA NO REGULAMENTO?
A possibilidade de o Paracatu herdar a vaga no Módulo 2 do Campeonato Mineiro em 2025 ganhou força com a análise do artigo 89 do Regulamento Geral de Competições (RGC) da Federação Mineira de Futebol (FMF). A crise vivida pelo Patrocinense, marcada por dívidas milionárias, abandono de competição e indefinições administrativas, abriu brechas para questionamentos sobre sua participação no torneio.
O QUE DIZ O ARTIGO 89?
De acordo com o artigo 89, clubes que desistirem, abandonarem ou forem excluídos de competições organizadas pela FMF estão sujeitos a três penalidades principais:
Rebaixamento automático para a divisão imediatamente inferior.
Multa de até R$ 200 mil.
Suspensão por dois anos de todas as competições chanceladas pela DCO (Diretoria de Competições).
A interpretação deste ponto do regulamento é crucial para a definição da vaga. Em 2024, o Patrocinense abandonou o Campeonato Mineiro antes do fim do “Triangular da Morte”, alegando falta de recursos para custear taxas de arbitragem e quadro móvel. Como resultado, o clube foi rebaixado. No entanto, há uma discussão sobre a aplicação da suspensão de dois anos, prevista no artigo 89.
Art. 89 do RGC O QUE DIZ O PARACATU?
Com o possível afastamento do Patrocinense, o Paracatu estaria pronto para assumir o desafio do Módulo 2. Em entrevista ao Sete nos Esportes, o diretor de comunicação do clube, Douglas, abordou a situação: “Estamos acompanhando a situação de longe, mas atentos. Nosso papel é defender os interesses do Paracatu. Entendemos que a vaga é da Patrocinense, por definição. Se o Patrocinense não disputar, vamos pleitear a vaga. Nossa equipe e nossa cidade estão mais do que prontas para isso”. Douglas ainda comentou sobre os trâmites envolvidos: “Confiamos na Federação e acreditamos que ela tomará a decisão certa. Até agora, não cogitamos medidas adicionais (como a contestação do artigo 89), mas estamos preparados para agir dentro da legalidade caso seja necessário.”
NOVAS NEGOCIAÇÕES TRABALHISTAS
O advogado Lucas Silva, que representa mais de dez jogadores com pendências trabalhistas junto ao Patrocinense, comentou sobre as recentes tentativas de negociação depois que o clube propôs pagar as dívidas em 12 parcelas de R$70 mil (um abatimento que totaliza R$840 mil). “Alguns atletas estão analisando a proposta, mas não há consenso. Enquanto isso, o bloqueio de registro de atletas continua ativo”, disse Lucas Silva.
DESFECHO PRÓXIMO, MAS INCERTO
O destino das duas equipes será decidido nas próximas semanas, com o Arbitral do Módulo 2. Enquanto o Patrocinense luta contra o relógio para resolver seus problemas administrativos e financeiros, o Paracatu aguarda uma oportunidade.
Seja qual for o desfecho, a disputa pela vaga expõe as diferenças entre duas realidades: o colapso de um clube tradicional e a ascensão de uma equipe jovem, que sonha em dar um passo significativo no cenário do futebol mineiro.
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